Resenha: Eterna, o Som do Amor – Bianca Sousa

Título: Eterna, o Som do Amor

Autora: Bianca Sousa

Ano de lançamento: 2014

Editora: Amazon

Número de páginas: 332

* Livro enviado pela autora para resenha

Skoob

Sinopse skoob:

Bernardo Milano é um violoncelista talentoso que tem sua vida arrancada de forma abrupta: é assassinado no dia de sua estreia como solista no Theatro Municipal de São Paulo.
O crime choca todo o país, em especial a cientista Cecília Ferreira que sem saber, faz um trato com uma entidade voodoo. Bernardo desperta de seu túmulo, mas o milagre vem acompanhado de uma maldição: se de dia ele vive, à noite sua verdadeira face cadavérica é exposta.
Contra todas as (im)possibilidades, Cecília e Bernardo recebem do destino uma segunda chance. Conseguirão burlar a morte e fazer com que esta não se revele um caminho sem volta?

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Eu não sou uma super fã de romances – com exceção dos de época, que adoro – mas quando vi esse livro da Bianca fiquei muito curiosa. Um cara que morre e volta, mas só durante o dia? O que será que a mocinha vai fazer para tentar reverter a situação? Que tarefa complicada a dela. Sim... fiquei bem curiosa com o rumo que os acontecimentos iriam tomar.

Eu tenho um certo problema com coisas de zumbi porque tenho muito nojo de imaginar uma cara faltando um pedaço do nariz, com o tendão do pescoço aparecendo, um pedaço do osso da face brilhando por baixo da bochecha inexistente, pele pendurada nos dedos. Eca. Mas como eu disse, a curiosidade falou mais alto e ignorei o nojinho para ler a obra de estreia da paulista Bianca Sousa.

A escrita da Bianca é muito boa, fluida, sem expressões regionais que podem acabar atrapalhando a leitura. Mesmo sendo uma obra contemporânea, os personagens não ficam falando gírias o tempo todo, mas essas aparecem de vez em quando, junto com alguns palavrões, o que ajuda a ambientar em uma época atual. Como foi bem dosado, ficou bom. Os diálogos foram bem construídos também, o que deixou a leitura mais dinâmica.

As partes que a autora descreveu o Theatro Municipal são lindas. Eu me imaginei entrando lá e ficando deslumbrada com a grandeza do local. Já tive a aportunidade de assistir a um concerto e amei demais, apesar de não entender muito de teoria musical. Todas as partes que envolvem esse tema no livro são realmente maravilhosas... adorei ler os momentos em que Bernardo toca seu cello e esquece tudo que está acontecendo ao redor, os seus problemas e tudo mais. Só pensa na música, ela flui por ele, através dele e comove quem está escutando. Aliás, a música do vídeo acima é Eterna, que Bernardo compôs para Cecília.

Aliás, acho que Bernardo e seus amigos, Amadeu e Trovoada, foram os personagens que mais gostei na obra. Ficava evidente quando a maldição recaía sobre o rapaz. Acontecia uma mudança total na personalidade dele, no humor, que ficava mais sombrio, taciturno e até mesmo vingativo. Foi um personagem muito interessante de se ler. 

Imagem retirada da page de Eterna

Já a Cecília achei bem chatinha em vários momentos. Ela tentava mostrar, para nós e para ela própria que não precisava de alguém ao lado dela para ser feliz, que era independente e tudo mais. Ao mesmo tempo seu comportamento mostrava exatamente o oposto disso. Às vezes ela parecia uma adolescente e não uma mulher madura de 30 anos. Isso me irritou um pouco.

Muitas vezes ela destilava preconceitos como por exemplo falando que o padrão feminino comum é de "mulheres que riem de qualquer piada tosca e mal contada por um cara dono de um carrão." Ou que uma mulher "mais velha" e solteira que tem um gato já virou a "tia dos gatos", em um tom muito depreciativo.

A amizade dela com a Mari também foi algo que me incomodou, pois ajuda a reforçar um estereótipo de que amizade entre mulheres é falsa, quando isso não pode ser, jamais, considerada uma verdade universal. Existem os casos onde isso acontece? Sim. Mas daí a generalizar, como as pessoas costumam fazer, e falar que amizade feminina é falsa, é um passo muito grande. Quero deixar claro que em nenhum momento a Bianca sugere que toda amizade feminina é assim, isso aconteceu apenas entre Cecília e Mari – inclusive a Cecília se mostra bem aberta quanto ao fato de sua irmã ser gay e dá todo o apoio e amizade a ela, o que foi bem legal. Só me incomoda ler essa rixa feminina nos livros, pois parece reforçar uma ideia ruim. Sei que a maioria das pessoas não se incomoda e acha até engraçado, mas eu não consigo mais pensar assim.

Conversei com a Bianca sobre isso e ela me falou que quando escreveu essa parte estava em um momento pessoal ruim e isso acabou influenciando. Além disso, de lá para cá ela desconstruiu muitas ideias que tinha – isso também aconteceu comigo e com muitas outras mulheres que conheço. No fim das contas eu dei um desconto para que essa parte não afetasse a minha opinião do livro como um todo. (Aliás, a Bianca escreveu um texto bacana sobre isso aqui!)

Em contrapartida, achei muito interessante ver uma pessoa tão cética quando Cecília ter que dar o braço a torcer e aceitar que não só a ciência rege o mundo, que outros componentes que ela não compreende bem podem alterar o rumo dos acontecimentos, ela aceitando ou não. A parte sobrenatural ficou bem legal mesmo. 

Também adorei ler uma personagem feminina que fosse pesquisadora e tão bem sucedida nessa profissão (que é tão pouco valorizada no Brasil)!

Imagem retirada da page de Eterna

Um fator que não gosto em romances em geral é o casal sempre passar de atração para paixão e amor em questão de horas. Isso acaba acontecendo aqui, mas havia um misticismo envolvido, o que nos faz pensar que o casal estava agindo com uma força regendo suas emoções, ou as exacerbando. Ainda assim prefiro quando o romance e o envolvimento acontecem mais devagar.

Aí chegamos no final.... ah, o final. Bianca realmente soube como terminar o livro de forma excelente que superou minhas expectativas! Tanto que já entrei na Amazon e baixei o “Epílogo” especial que ela escreveu com uma pequena continuação sobre o que acontece com cada um dos personagens. Fiquei muito curiosa para saber o rumo que cada um iria tomar depois daquele fim e já vou matar minha curiosidade.

Bom, no fim das contas... é um livro de zumbi? Sim. Mas quem for ler tem que ter em mente que é muito mais um romance – como a capa indica – do que um suspense sobrenatural, embora essa faceta também esteja presente na obra.

Vale a pena a leitura? Sim! Principalmente para quem gosta de romance com um toque sobrenatural, ou quem quer algo que fuja do lugar-comum!

Samy =)