terça-feira, 1 de julho de 2014

Resenha: Uma Crônica Sobre a Pergunta – Daniel Manzoni



Título: Uma Crônica Sobre a Pergunta
Autor: Daniel Manzoni
Ano de lançamento: 2014
Editora: CRV
Número de páginas:

Sinopse oficial:

Você já se fez a pergunta "Quem sou eu?"? Babil, um jovem inocente de uma escola pública de periferia da cidade de São Paulo faz essa pergunta, em meio à tormenta dos conflitos da adolescência, acreditando fortemente, como um porto seguro para um navio na tormenta, que poderá respondê-la ao seguir uma carreira plena de cientista, mergulhado no conhecimento acadêmico. Envolvido em uma trajetória de vida, para conquistar sua carreira universitária, cheia de contradições insolúveis, descobertas, raiva e amor, vai descobrindo que o mundo do conhecimento pode não ser a melhor opção para responder sua pergunta.

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Como falei aqui com vocês, assim que fiquei sabendo que o Daniel Manzoni lançaria um livro, fiquei muito curiosa a respeito. Acho a escrita do autor muito interessante e queria conferir logo essa novidade. Pude ler o livro e fico muito feliz em poder compartilhar minhas impressões aqui com vocês!

Bom, a narrativa é feita em terceira pessoa – com exceção de uma pequena parte do prólogo, que é narrada em primeira pessoa. A partir do primeiro capítulo, temos como foco Babil, um adolescente que estuda em uma escola na periferia de São Paulo. Ele mora apenas com a mãe, que trabalha duro para conseguir sustentar aos dois. O início é um pouco lento, pois somos ambientados à trama e apresentados a alguns personagens. Mas depois de poucas páginas a narrativa engrena e eu já não conseguia mais parar de ler. A narrativa é fluida e agradável.

Um dos pontos que achei mais interessantes no livro – e bem diferente – é que apenas o personagem principal tem nome – além de um outro. Os demais personagens são referidos por alguma característica física ou profissão.

Babil é um garoto ingênuo, que tem sonhos cor-de-rosa e, apesar de toda a pobreza e de ter que lutar para sobreviver a cada dia, ainda não foi atingido pela brutalidade da vida real, continua sendo um sonhador e idealista. Ele acha que a vida pode ser bela. É um personagem profundo, muito bem construído, com medos, aflições, traumas, esperança. A mãe de Babil também foi um personagem que me cativou. Ela é ignorante, mas demonstra compaixão e tem bom senso, apesar da falta de estudo – aliás, essas duas coisas não estão, definitivamente ligadas ao estudo, pelo que já pude perceber. Trabalha muito para manter o filho, por isso não teve a chance de estudar, é honesta e ensinou ao filho a ser um homem digno.

À medida que vamos acompanhando a vida de Babil, vemos sua entrada no mundo acadêmico. Confesso que não pude deixar de ficar com dó do personagem e sua ilusão de que o cientista e professor (pelo menos o de universidade, na visão dele) são valorizados nesse país. Me dava vontade falar: “não se iluda Babil, o pesquisador não é nem um pouco valorizado!”. Ele segue seu coração e decide entrar para a ciência, mas encontra muitos obstáculos.

Acredito que muitos dos que viemos parar onde o Babil quer ir – o meio acadêmico – sofremos exatamente o que é retratado no livro. “Vai fazer (coloque aqui a área científica que quiser, comigo foi Ciências Biológicas)? Mas isso não dá dinheiro!” Realmente é muito difícil alguém ficar rico nessa área, principalmente porque não é uma profissão valorizada no Brasil. Imagine então quando se trata de um menino pobre que precisa levar dinheiro para ajudar em casa? Porém as dúvidas de Babil eram maiores que qualquer obstáculo que surgisse em sua frente. E essas dúvidas, ele acreditava, poderiam ser sanadas com a ajuda da ciência. Ele se mostrou extremamente determinado no decorrer da narrativa.

Além de retratar de forma extremamente fiel o meio acadêmico, o livro trata de outro tema muito discutido atualmente, a homossexualidade e a homofobia. Aqui, o autor aproveita para apontar suas teorias a respeito desse assunto. Será que o próprio homossexual pode apresentar comportamentos homofóbicos? Talvez inconscientemente, possivelmente por causa da não aceitação por parte da sociedade como um todo. Talvez por medo, ou por vergonha, ou por culpa. Mas o livro me fez pensar que essas pessoas – e aqui não sei se foi a ideia do autor ou se eu que entendi dessa forma – não devem ter orgulho de ser gays. Elas devem ter orgulho de ser quem são. Em todos os sentidos da vida, incluindo a orientação sexual. Ser gay é só um aspecto da vida dessa pessoa, não deveria defini-la e nem prende-la.

Obviamente existem lados bons na ciência e na vida de um pesquisador, mas não era a intenção do autor focar nessa parte positiva, e sim fazer uma crítica ao modo de funcionamento de um departamento ou laboratório de pesquisa. Achei uma ótima leitura porque o livro consegue informar às pessoas que não estão incluídas nos ambientes tratados na estória e leva-las a pensar.

Por último, confesso que fiquei boquiaberta com a reviravolta mais para o final da estória e amei a conclusão. Recomendo a leitura!



Samy =)

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Ainda mais quem está na área acadêmica, se identifica total!!

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  2. Ótima resenha! Tive a oportunidade de ajudar na leitura crítica da obra e acompanhar o processo.
    Uma Crônica sobre a Pergunta é cativante. Acredito que você conseguiu definir bem a essência do livro!

    Abraços

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    Respostas
    1. Oi Ben! Fico feliz que vc tenha gostado da resenha! Principalmente tendo ajudado na leitura crítica do livro!

      Abraços!

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