quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Por trás do lápis: Eduardo Prota


Hoje, aproveito o Setembro Nacional proposto pela Carolina do Entre Livros e trago mais uma entrevista no blog com um autor estreante!

Eduardo Prota é formado em Artes Visuais, aficionado por fantasia e ficção científica e acabou de publicar seu primeiro livro! Na entrevista ele vai nos contar mais sobre a obra e sobre o processo de criação e publicação. Vamos lá??


É um prazer receber você aqui no blog Eduardo! Nos conte um pouco sobre você e sobre como começou a escrever.

O prazer é todo meu, Samara! Bom, em 1997, Star Wars foi relançado nos cinemas – foi quando eu assisti a trilogia pela primeira vez. Desde então, eu andava com um caderninho e caneta para cima e para baixo, inventando galáxias e raças alienígenas estranhas. Eu ainda tinha doze anos, mas a ficção científica e fantasia dominaram meu imaginário desde então. Foi como dar continuidade às brincadeiras de criança que sempre estimulam nossa imaginação e nos fazem entender a realidade através de outros prismas. Eu era, é claro, o favorito das professoras de português, que sempre pediam que eu lesse minhas redações na sala e me estimulavam cada vez mais na escrita.



Você começou a ler mais velho ou desde criança já vivia com um livro nas mãos?

Na verdade, o gosto pelas letras veio primeiramente com os quadrinhos – na hora do recreio, eu conversava com os amigos sobre HQs, super-heróis e tudo mais. Daí, naturalmente, procurei livros de aventuras e relacionados a meus heróis favoritos. Detestava livros obrigatórios na escola. Evitava lê-los, mas acompanhava as discussões sobre as obras na aula. Com isso, conseguia sintetizar a história e escrevia resenhas minhas baseadas nas opiniões dos colegas. As professoras elogiavam e eu ganhava a nota. Como muitos, só vim a reconhecer o valor dessas obras posteriormente, quando já tinha a bagagem cultural adequada.

Esse realmente é um dos fatores que afasta muitos jovens dos livros, infelizmente. É uma discussão bem complexa. Quais seus escritores/livros favoritos?

Eu diria que comecei com livros de aventura, como a coleção Salve-se Quem Puder e livros ilustrados em geral (tinha uma atração especial pelo visual). Michael Crichton com seu Jurassic Park foi um dos primeiros livros adultos. Logo depois, vieram os livros de Star Wars por Timothy Zahn, Carl Sagan, Arthur C. Clarke... depois, veio o gosto por história, com livros como os de  Bernard Cornwell e Musashi, que resultou, é claro, em fantasia, com os já previsíveis Tolkien, J.K.Rowling e Martin.

E os nacionais?

Dentre alguns dos primeiros livros que li estavam Manuel Bandeira e a coleção Vaga-Lume, que, é claro, ficaram sempre no meu coração. Sempre gostei muito do ritmo fluido da narrativa, o que me fez gostar muito de Paulo Coelho e Laurentino Gomes. Recentemente, em fantasia, tenho lido muita coisa de Raphael Draccon, Ana Lúcia Merege, Fábio Yabu e Affonso Solano.

Qual o rumo você acha que a literatura nacional está tomando nesses últimos tempos? Acha que os leitores estão dando mais atenção às obras nacionais?

Com certeza tem crescido, e muito – na verdade, é assustador o quanto a nova geração de leitores é engajada e o quanto cada nicho tem grandes expoentes.
 Há quinze anos atrás, seria quase impensável que um autor brasileiro de um gênero como a fantasia figurar entre os best-sellers – hoje, há vários exemplos.  Isso encoraja mais escritores a tentar, bem como encoraja mais leitores a se aventurarem por gêneros e autores desconhecidos. Ainda temos um longo caminho para chegar perto do nível de produção e valorização de livros em países mais desenvolvidos, mas certamente enxergamos que existe um caminho agora – e, seguindo esse caminho, não há dúvidas de que só temos a melhorar.

Sobre seu livro, As Ibyranas, é o primeiro de uma saga, certo? Você planeja escrever quantos livros?

São dois livros. Na verdade, tudo era um enorme livro, de inviáveis 700 páginas. Como isso tornava a impressão e o envio muito caros (sem contar que são páginas de um autor estreante), dolorosamente decidi dividir a obra em duas partes – e digo ‘dolorosamente’ porque algumas pontas abertas no primeiro livro (Senhores da Terra) só se concluem no segundo, que fecha a trama de vez. Por sorte, o primeiro possui uma história principal fechada, que introduz bem o mundo e os personagens. Além disso, a prática de deixar um pouco para o próximo livro já é corriqueira no gênero fantasia. Se der certo, quem sabe? Existe material o suficiente para um terceiro e quarto livros, ideias não faltam.

Você já pincelou essa questão na resposta acima, mas só para esclarecer de vez. A sequência, ou sequências, serão independentes (como por exemplo os livros de Marcelo Paschoalin, vários ambientados em Andora, mas com diferentes personagens) ou serão uma continuação da mesma estória, com os mesmos personagens?

Tudo é bem focado nos personagens principais, que são os condutores da história – à medida que vamos nos aprofundando neles, suas origens, seus medos e seus mistérios, vamos entendendo diferentes lados daquela terra. Desenvolver personagens é essencial para mim. Quero que o leitor, gostando de fantasia ou não, possa reconhecer a humanidade nesses personagens e se identificar neles. Assim, tudo que acontecer com eles será relevante.

Nos conte um pouco sobre esse mundo, essas terras que você criou, as Ibyranas, e o que devemos esperar do livro.

As Ibyranas são uma versão do Brasil colonial, com contexto similar, mas sem a necessidade de se respeitar a História (risos). Eu poderia usar o próprio Brasil antigo, mas teria que levar em conta o terrível destino do Quilombo dos Palmares, respeitar as personalidades e destinos de famosos membros da corte portuguesa e ainda situar a história em um período em que a invasão holandesa e Dom João VI coexistissem – na verdade, período algum, já que existem quase 200 anos de diferença entre eles. Mas com as Ibyranas, posso usar tudo que há de melhor e mais intrigante na História brasileira e ainda combiná-la com elementos fantásticos da maneira que melhor servir à trama.


   
Como foi o processo de criação? De onde veio a inspiração? Pelo que eu entendi você inseriu alguns elementos das lendas e do folclore brasileiro no livro, estou certa?


O embrião da ideia veio em 2003, quando O Senhor dos Anéis estava no ápice nos cinemas. Desenhei alguns curupiras como se fossem os elfos – uma sociedade perfeita em comunhão com a natureza ao seu redor. Esse conceito ficou em minha mente por mais vários anos, até que comecei a escrever, em 2008, sem muita ideia de onde a história iria parar. Foram quatro anos de escrita, muitas ideias surgindo e sendo abandonadas, até que eu pudesse realmente interligar as histórias de forma a tornar a História do Brasil compatível e intimamente conectada às histórias do folclore nacional, que, embora fossem voltadas para assustar viajantes e crianças, possuíam um enorme potencial não-explorado. Decidi reimaginá-las como um auto-desafio, e realmente fiquei satisfeito com o resultado. Quis manter a essência dessas histórias e, ainda assim, expandí-las.

Eu achei isso super interessante, inserir elementos do nosso folclore no livro. Mesmo autores nacionais costumam optar por elfos, anões, magos ou criaturas não conhecidas. Estou muito curiosa! Lá na fan page do livro tem várias ilustrações. Elas estão presentes em alguma parte da obra ou são apenas curiosidades, um extra, para os fãs? Essas ilustrações foram feitas por você?


Sim, foram todas feitas por mim! O desenho é algo que desenvolvo desde a infância, e sempre me ajudou a criar novos cenários e personagens. Sem ela, eu certamente não teria tantas ideias com as quais trabalhar. Faz parte de tornar real o que se passa na minha cabeça. Mas o livro contém apenas uma ilustração, fora a capa, que também foi feita por mim. Pensei em ilustrar cada capítulo, mas me lembro de quando eu lia livros ilustrados: fazia de tudo para chegar até a ilustração entre capítulos – e isso acabava sendo uma distração.  Gosto de colocá-los na fan page como um atrativo e um complemento para a leitura – um extra mesmo, como você disse. Também fiz um booktrailer com esses desenhos, onde conto uma pequena história explicando a origem das Ibyranas.




Aliás, eu achei a capa lindíssima! Fiquei super curiosa para ver a da sequência!
Você fez algum tipo de pesquisa para escrever o livro?


Fiz uma pesquisa bem extensa, não só da vida no Brasil colonial como também das lendas do folclore. Queria saber o máximo possível antes de moldar meu próprio mundo. Os dois elementos eram trabalhosos, mas eu diria que o último foi um pouco mais complicado. Não existe nada definitivo quanto às lendas contadas por aí em folclore. São histórias simples, de tradição oral, e não mitologias complexas – não existe muito consenso, por exemplo, entre a diferença entre o caipora e o curupira. Para isso, o mais importante elemento foi o Dicionário de Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos de cultura popular nacional.

E a publicação? Acredito que esse passo seja o maior desmotivador de muitos escritores no Brasil, pela dificuldade em encontrar uma editora que queira apostar em um escritor iniciante. Como foi com você?

Assim que o livro ficou pronto, em 2012, fiz uma revisão e comecei a enviá-lo para editoras. Logo, me deparei com o real desafio – não só eu era um autor iniciante como também escrevia sobre folclore, o que é extremamente mal-visto, já que soa esperançoso e ingênuo. O tamanho do livro também não ajudou, o que me levou à decisão da divisão. Tentei diversas editoras, e o grande problema foi que não recebi sequer um ‘não’. Elas simplesmente não contatavam mais. Por isso, me cansei de esperar. Eu tinha aulas de artes gráficas na faculdade, e nelas os professores explicavam como eram feitas publicações. Aprendi e me esforcei muito para conseguir diagramar como faria um profissional. Finalmente, quando já estava satisfeitíssimo com o resultado final, vi que era possível comercializar através do Clube de Autores, um serviço muito útil que vem crescendo exponencialmente. Assim, o que aprendi sobre o mercado, lidar com o público, editar a própria obra tem sido inestimável. Certamente tem valido muito a pena.

Essa é uma ótima dica para os escritores que não conseguem publicar seu livro de estreia! Quem quiser mais informações é só entrar aqui! Por último, mas não menos importante... onde podemos comprar seu livro?

Ele está disponível no Clube de Autores, nesse link. O site já está no ar há anos e sua eficiência, tanto na impressão quanto na entrega, me impressionou bastante. Já pedi vários exemplares para averiguar possíveis erros. Quem tiver interesse pode ficar tranquilo em adquirir o livro, no formato digital ou impresso – não comercializaria algo que eu mesmo não compraria com prazer. Meu perfeccionismo obsessivo de artista nunca mais me deixaria dormir à noite (risos).

Como já disse, estou curiosíssima para conferir essa novidade! Eduardo, muito obrigada pela disponibilidade de responder às perguntas! Te desejo todo o sucesso nesse seu novo projeto e espero em breve ler o livro e postar aqui para o pessoal! ;)

Samy =)

8 comentários:

  1. curti pra caramba! uma pena mesmo que nao haja um incentivo maior de parte das editoras e que elas sequer deem um posicionamento. mas o importante eh nao desistir e, de uma forma ou outra, o livro ta feito e super bonito mesmo! so acho que os desenhos nem iam ser distracao, hein! :)

    Ligia

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    1. Eu tbm apoio mais desenhos no próximo! Adoro inícios de capítulo c desenho! :D

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  2. Que bom que você foi um escritor iniciante que persistiu apesar de todas as dificuldades, Eduardo Prota. Seria uma pena perdermos uma história incrível como "As Ibyranas". Parabéns pelo fantástico trabalho!

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  3. Parabéns pela entrevista. Ficou muito boa. Assim como o autor eu não gostava dos livros obrigatórios da escola, Acho que se fossem os da serie vagalume citados pelo autor, obrigatórios por exemplo, seria muito melhor e mais produtivo.

    Blog Prefácio

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    1. Obrigada Sil!
      Eu acho uma questão bem complicada colocar adolescentes de 14, 15 anos para ler Machado de Assis, por exemplo. Não são todos que têm maturidade para entender e gostar e isso acaba afastando muitos jovens dos livros. :(

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  4. Que gracinha, gostei bastante! Deve ser muito desafiador ser um escritor iniciante né? E vários livros bombam no início, outros temos noticias alguns anos depois e vira um estouro de proporções impressionantes. Gostei!

    Parabéns.

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    1. Nem imagino como deve ser difícil! Para mim, escrever já é uma tarefa árdua, imagina ainda ter que correr atrás pra publicar!

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