sábado, 29 de novembro de 2014

Por trás do lápis: Mario Vicente


Jornalista, publicitário e escritor, Mario Vicente nasceu na cidade de Cascavel, oeste do Paraná. O primeiro livro publicado pelo autor, em 1987, foi de crônicas e poesia, o Natureza Clandestina. Seu primeiro romance, publicado em 2008, foi O Homem que Chorava. Recentemente, Mario Vicente lançou seu segundo romance, Mademoiselle Zaira, através da editora Novas Páginas, (grupo Novo Conceito). Vamos conhecer um pouco mais sobre o escritor e suas obras?

Primeiro, obrigada por gastar um pouco do seu tempo respondendo à nossa entrevista, Mario!

Imagina, eu que agradeço a iniciativa e seu apoio.

Você seguiu um longo caminho antes de se dedicar inteiramente à escrita. Nos conte um pouco como foi essa decisão de se tornar escritor em tempo integral.

Bom, ainda não consegui me dedicar totalmente à literatura, meu projeto está quase lá, acredito que no máximo meados de 2015 eu consigo. Então, como no Brasil é difícil viver só da cultura, exceto para poucos, a sobrevivência manda que você escolha uma profissão e busque um lugar ao sol. Fiz muitas coisas na vida, mas sempre mantive o sonho e a esperança de um dia poder escrever meus livros. Só consegui isso em 2008, quando decidi mudar radicalmente de vida. Meus primeiros dois livros, o Natureza Clandestina, poemas e crônicas, lancei em 1987, aos 26 anos, por conta e risco, foi aquela publicação bem pessoal mesmo, quase que uma vaidade (quem não a teve?), depois vi que não era meu forte, passei um tempo frustrado e não produzi nada.  Levei anos para me animar de novo com a literatura, foi quando senti que era o tempo certo. Aí, o segundo, 20 anos depois, foi O Homem que Chorava, escrevi em 2007, depois de fazer o Caminho sagrado de Compostela na Espanha. O terceiro e recente, Mademoiselle Zaira, é um romance de suspense, 99% de ficção, apenas baseado em uma nota de jornal sobre uma garota de 15 anos que fora violentada num carnaval no início dos anos 60... Também escrevi dois livros por encomenda: como disse, a sobrevivência nos obriga. Porém, durante esses anos todos eu escolhi trabalhar na área de comunicação, estou no jornalismo desde meus 15 anos, então, de certa forma fiquei sempre envolvido com a escrita e paralelamente sempre próximo dos livros, amo a leitura. Enfim, com todos esses anos perseguindo a literatura, me considero, ainda, um iniciante na atividade, pois tenho muito para aprender e estou disposto a isso. A decisão já foi tomada, agora estou investindo cada vez mais, o meu tempo, dinheiro em cursos, feiras e eventos e aperfeiçoando a técnica de como escrever uma boa história (se pensarmos em best-sellers rsrsrsrs).

É, não dá para negar que é um caminho árduo para quem segue essa carreira, mas acredito que é recompensador! Vamos falar um pouco então sobre seu primeiro romance, O Homem que Chorava? Você mencionou ter feito o Caminho de Santiago de Compostela e o livro trata exatamente disso. A estória narrada foi baseada, ou inspirada, nessa sua trajetória?

Fazer o caminho de Santiago era uma meta antiga, um sonho e até uma espécie de promessa para agradecer o dom da vida e as realizações aos 45 anos. Atrelado à decisão de querer sair da empresa em que trabalhava (11 anos responsável pelo marketing e assessoria de imprensa) e me tornar escritor profissional, aproveitei o pequeno negócio (um jornal que ainda tenho até hoje). Isso foi um marco pessoal e uma reviravolta em minha vida afetiva e social. Fiz o caminho também com intuito de escrever um livro romanceado. O Homem que Chorava é esse romance no qual usei de algumas experiências de vida para falar de Maxxi e mantive o relato do próprio caminho, como se fosse uma história paralela, por isso ele pareceu meio autobiográfico, mas não foi isso. É ficção mesmo. Apenas usei de algumas experiências e como tem duas histórias paralelas, a do Caminho e a do Maxxi, uma real e outra fictícia, quis também fazer uma homenagem ao meu pai, que falecera num período em que eu me dedicava muito ao trabalho e não tive tempo de me despedir, muito menos de usufruir de sua amizade. Só fui entender muitas coisas a respeito de família, durante e após o caminho. Foi tão formidável que pretendo fazer de novo.

Eu, que amo viajar, tenho muita vontade de fazer o Caminho de Compostela também! Fiquei curiosa a respeito do romance! Você falou acima que seu último livro, Mademoiselle Zaira, foi inspirado em um nota de jornal sobre uma garota violentada. Pode nos contar um pouco mais a respeito dessa inspiração?

Sim, foi apenas isso, li uma vez, quando estava na biblioteca estadual do Paraná, pesquisando para um livro sob encomenda da empresa em que trabalhava, uma pequena nota num jornal dos anos 60, a qual me chamou a atenção: era bem curta, mas anotei e pensei que um dia daria uma história. Eu digo que isso foi o ponto de partida para um ideia que eu tinha há muitos anos, a de escrever um romance sob o ponto de vista de um ser diferenciado, na época ainda não tinha o livro A Menina que Roubava Livros, a qual tem a narrativa sob o ponto de vista da morte. Gosto dessas nuances, claro, de vez em quando na literatura isso é interessante para quebrar um pouco o ritmo. A ideia do feto narrar a metade do livro era muito latente e fui amadurecendo isso, mesmo depois de saber do livro da “Menina”. O romance foi escrito durante um ano e meio e acho que consegui evoluir em relação a O Homem que Chorava. Mas, na minha concepção falta bastante e pretendo chegar ao ponto ideal no próximo trabalho.

Eu realmente achei bem interessante esse ponto de vista da sua obra, inclusive mencionei esse fato no comentário que fiz para o blog sobre o livro! Acha que podemos, então, dizer que suas obras são inspiradas em fatos da vida que te despertam certa curiosidade e você vai atrás de desenvolver essa ideia que se formou?

Não necessariamente. O primeiro, como disse, é bastante verídico pelo próprio caminho e suas influências. O Mademoiselle Zaira só teve o ponto de partida. Sou muito da ficção, mas não posso descartar qualquer fato, dica ou algum exemplo de vida para usar de referência. Afinal, a arte imita a vida ou vice-versa... Meu próximo livro será 100% ficção e voltado para o público jovem, entre 15 a 25 anos, porém, os temas são relevantes para a atual conjuntura social em que vivemos em nosso país.

Em breve falaremos de novo do seu próximo romance. Primeiro me conte um pouco a respeito do processo de criação dos personagens e suas personalidades. Você se inspira em alguém? De onde surgem os nomes?

A criação em si flui normalmente, não tenho dificuldades, pelo contrário, ideias vem aos montes. Não tenho uma referência padrão, pois aos 53 anos, minhas experiências de vida, trabalho, social e até de relacionamentos, me dão um passaporte para usufruir de muitas coisas. Juntando isso com as leituras, os fatos do nosso cotidiano, os quais são infindáveis, chego a muitos temas, personagens e histórias para contar. Claro que, em algum personagem, possa existir alguma característica oriunda de alguma lembrança ou algo já experimentado. Procuro sempre mesclar, para não ter nenhuma conotação, mas com veracidade. Os nomes, são muito diferenciados, de acordo com a época, características peculiares. Portanto, nesse processo de criação, me sinto confortável nas ideias, mas preciso e sinto que devo evoluir na construção dos personagens e suas personalidades e é isso que venho fazendo com a próxima obra.

Você faz alguma pesquisa durante a escrita das obras?

Sempre, a pesquisa é fundamental tanto para dar suporte ao escritor quanto para dar veracidade à história. Em O Homem que Chorava, além de fazer o caminho eu ainda tive que mergulhar sobre o assunto e ler outras obras sobre a trajetória da peregrinação. No livro da Zaira, entrevistei médicos obstetras, os espíritas, li muito sobre o inconsciente, visitei o Instituto da Conscienciologia em Foz do Iguaçu, enfim, foi um ano de pesquisa para poder compor a narrativa sob o ponto de vista do feto com seis meses de vida intrauterina, além da localização baseada na cidade de Paranaguá no Paraná, a qual virou Sollares. Até o personagem psicopata do livro, Francisco, um dos vilões da história, foi baseado em muita pesquisa.

Você sempre foi aficionado por livros, desde a infância, ou foi um gosto que surgiu aos poucos?

Sim, desde meus 8 anos de idade, quando ouvia meu pai com sua sanfona, eu pegava um pedaço de papel e escrevia letras de música. Comecei a ler cedo, tive, graças a Deus, minha formação no Colégio Marista de Cascavel, onde tinha muito incentivo nas artes. Outra coisa que considero uma influência, foi o de sempre gostar de conversar com pessoas mais idosas, por isso tive muitos conselhos, dicas e uma delas foi ler o primeiro livro. Meu pai incentivava a estudar, mas daquele tipo antigo de o filho ser doutor. Em casa ninguém lia, eu comecei a ler livros mesmo, acho que aos 11 anos.

Acaba que a influência em casa conta muito mesmo, mas não é a única que pode moldar o gosto pela leitura, né? Quais são seus autores favoritos? Algum deles te serve de inspiração?

Tenho alguns que adoro ler: Mika Waltari, Mila Kundera, Carlos Ruiz Zafón, Mario Vargas Llosa, Machado de Assis e muitos outros. A narrativa que me agrada muito é do Zafón, em A Sombra do Vento e Marina, adoro esses livros. Mas não procuro buscar alguma semelhança, tento construir meu estilo que ainda não está definido, pois só depois de mais algumas obras, poderei dizer que tenho um estilo. O que me inspira é tudo, a vida, os jovens que estão lendo cada vez mais, as diferenças e o respeito entre seres humanos, que apesar de tudo, existe e é imprescindível para nossa sobrevivência.

Eu sempre procuro saber a opinião dos autores no que diz respeito à literatura nacional. Como você acha que estamos caminhando? Acha que os autores nacionais têm tido mais espaço ultimamente, ou pensa que esse fator não mudou muito nos últimos anos?

Temos tido alguma evolução e tem muita gente boa na literatura atual. Jovens inclusive com muito talento. Mas, a começar pelo governo, não há incentivo algum. As editoras só dão importância ao que vende, aos best-sellers estrangeiros, principalmente que viram filme. Adoro arte de entretenimento e estou trabalhando nisso, mas precisamos ter mais espaço.
As feiras sempre contemplam os consagrados e o espaço é cada vez mais difícil para quem está começando. Me sinto privilegiado até, por já na segunda obra, ter uma editora que apostou, a Novo Conceito (dona da Novas Páginas) de São Paulo e vivendo essa experiência com o eBook , o qual tende a crescer.
De forma geral, nossa literatura ainda está voltada aos ícones da velha guarda, é preciso respeitá-los sim, mas criar mecanismos para a juventude, os novos talentos. A grande mídia também não dá mais do que uma coluna para a literatura e quando dá, é para os que não precisam dela. Tenho fé no meu propósito e estou perseguindo a risca, em todos os detalhes. Um dia o Brasil vai se curvar e valorizar a literatura como valoriza a música. É uma pena, temos tão pouco incentivo nos municípios e o que falar de um órgão responsável pelo livro, a CBL (Câmara Brasileira do Livro), que me parece ser um cabide politiqueiro, até hoje não vi eles fazerem qualquer coisa para os iniciantes, jovens e bons escritores que estão aí sofrendo para serem publicados. É um órgão de elite apenas, infelizmente.

Realmente a grande mídia não ajuda muito a literatura, espero que os blogs literários estejam conseguindo mudar isso pouco, pelo menos no nicho mais jovem que os acompanha. Como você mencionou acima, seu primeiro livro foi publicado de forma independente. Já o último foi publicado pela Editora Novas Páginas. O que você acha que pode ter sido responsável por essa mudança? Algo que possa servir de dica para aspirantes a escritores que não conseguem publicar por meio de uma editora?

Somente na prática, batendo cabeça é possível alcançar algum objetivo. Um dos fatores que influenciam uma obra é a sua apresentação. Existe uma espécie de fórmula para apresentar a obra quando não se tem agente literário, pois esses, também só querem o filé para representar. Claro que a obra tem que ter algum conteúdo interessante, estar totalmente corrigida, ter passado por no mínimo uma ou duas análises críticas e isso custa dinheiro. No meu caso, apostei nisso e depois de quase um ano lapidando o novo livro, consegui fazer uma apresentação de 8 páginas para as editoras. Porém, de início a gente recebe cerca de 90% de não e o sonho deve persistir se você achar que sua obra está boa. Só não adianta mostrar para amigos e parentes, isso é uma tremenda armadilha. Temos que nos profissionalizar e sempre.

Por último, você pincelou sobre ter uma outra obra já engatilhada, na qual você está trabalhando. Pode nos contar um pouco a respeito?

Na realidade eu tenho cerca de cinco projetos para literatura. Estou praticamente definido num deles que será voltado ao público jovem. Como estava esperando uma resposta do público leitor para o Mademoiselle Zaira, identifiquei uma juventude entre 15 e 25 anos que não imaginava e isso me incentivou a decidir sobre a próxima obra.
Como no Brasil, ainda, a literatura não trata a sua realidade como deveria, sempre de forma subjetiva, quase abstrata, em sua maioria, estou trabalhando num livro que tem como pano de fundo as drogas e a gravidez na adolescência (é mera coincidência com Mademoiselle, grávida aos 15). Esse será totalmente ficção, estou na fase de compor os principais personagens, três adolescentes na faixa dos 15/16 anos. Como é novidade pra mim, demanda mais pesquisa, além de mudar a narrativa, vou usar de uma forma mais coloquial e aumentar a dose de humor em meus trabalhos. Por isso venho exercitando em meu blog escrevendo crônicas, artigos e contos, como se fosse um aperitivo. A história já está pronta, delineada, com todos os personagens e vai se passar em São Paulo dos anos 90 a 2005. Ainda sem nome para o livro, mas o que posso adiantar é que a personagem principal é uma garota do cabelo ruivo, de personalidade forte, decidida. A curiosidade desse novo trabalho, entre outras coisas, é que estou preparando-o para uma trilogia, com o pano de fundo já citado, nos apontando temas mais profundos: o primeiro será sobre a inveja, o segundo sobre a vingança e o terceiro sobre o amor.

Então o que podemos esperar das suas novas obras?

Com certeza, este próximo livro será muito melhor que o último, pois sou um profissional que busca evoluir a cada trabalho, sem ser perfeccionista nem chato, mas persistente no que faço. E será um livro digno dessa juventude.

Mario, mais uma vez, muito obrigada por se dispor a vir aqui nos contar sobre seu trabalho! Foi ótimo saber mais a seu respeito e a respeito do seu trabalho e um enorme prazer te receber aqui no blog!

Agradeço imensamente a oportunidade, como disse, estou em início de carreira e tudo ajuda na divulgação. Parabéns pela sua iniciativa, pelo seu carinho com os escritores nacionais e espero ter ajudado de alguma forma.
Sucesso a você, no seu blog e na sua carreira e um grande abraço a seus leitores, que espero um dia quem sabe, também apreciarem minhas obras. 


Espero que tenham gostado de conhecer mais o Mario Vicente! Espero em breve poder ler o livro dele e contar mais um pouco para vocês!!
Samy =)

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