terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Por trás do lápis: Mogg Mester


Hoje é dia de entrevistaaaaa! Aeeeee! O dia hoje é do Mogg Mester, autor que acabou de publicar seu primeiro livro de alta fantasia.

Mas primeiro vamos conhecer um pouco mais sobre o autor...

"Médico veterinário, Formado pela UFBa (Universidade Federal da Bahia) e psicólogo, Formado  pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública,  entusiasta da Psicologia Analítica Junguiana,   Mogg Mester reside em Salvador, Bahia. Lá, quando não se dedica à joalheria, passa parte do   seu tempo livre em busca de retratar através das palavras os horrores e as taras sombrias dos   humanos através de estórias de fantasia. Atualmente participa do processo de construção do   game nacional Guerreiros Folclóricos como romancista e roteirista Junto à Unique e é editor do site Clube Autores de Fantasia."

Mogg é mais um dos que fala muito (lembram da Jana? hahahahaha), mas garanto que vale a pena ler até o fim! <3
 
Olá Mogg! Bem vindo ao Infinitos Livros! É um prazer recebê-lo aqui! Você sempre foi um bom leitor, ou o amor pelos livros começou depois de mais velho?

Sempre fui incentivado por meus pais a ler. Desde cedo eles liam livros infantis de escola e era muito divertido quando eu ouvia meu pai fazendo piadas enquanto minha mãe lia o texto. Quando fiquei mais velho passei a ler como um hábito, uma necessidade e não como uma obrigação. Era uma estratégia que visava compensar algumas dificuldades que eu tinha em certas coisas, como relacionamentos sociais. Tentava compensar com conhecimento. Tornei-me um obcecado por saber, por devorar mundos e universos criados por outros e por absorver parte de suas experiências assim. Nos últimos anos ler passou a significar alimento para a minha mente. Cada livro é um santuário em que oro as mais preciosas horas dos meus dias.


Fale um pouco sobre sua história com a escrita. Quando você começou a escrever?

Desde muito cedo eu já tinha o desejo. Realizei um esboço de uma estória aos 10 anos, se não me engano. Mas meu pai e um tio meu a viram e ficaram fazendo piadas. Senti-me ridículo. Parei por ali, como uma criança para de desenhar ao ver alguém rir de seu desenho. Aos meus 25 anos conheci uma pessoa (hoje já falecida) aquém fiz uma pergunta. Ela me deu uma resposta que foi o gatilho para eu começar a escrever. Perguntei-lhe: Gosto muito de vilões, e sempre torço para eles. Será que tenho algum problema? (ou algo do tipo.). Nunca vou esquecer a resposta dessa mulher que mudou minha vida com suas palavras. Ela me perguntou se eu torcia para vilões na vida real ou só nas fantasias de romances, filmes etc... Respondi que só nas fantasias. Sua resposta foi surpreendente, coisa que jamais havia ouvido de outras pessoas a quem eu havia feito a mesma pergunta: ela era da opinião que esse gosto tinha algo a ver com um senso estético próprio meu, de minha visão de mundo. Disse que eu tinha uma visão poética das coisas muito particular. “Você tem um escritor reprimido em você. Acho que você deve escrever”.

O impacto disso veio como um soco na cara. A aceitação da ideia foi imediata. Naquele mesmo dia A Auriflama do Caos começou a nascer.

Claro, antes disso havia escrito algumas poesias na escola. Tive um grande apoiador, um professor do meu terceiro ano. No início da faculdade escrevia ainda pequenas estorinhas com fundo moral de algo que eu havia percebido e de queria falar. Mas, tornar-me escritor, só me tornei ao ouvir o que essa pessoa me disse.


Você publicou recentemente o primeiro volume da saga A Auriflama do Caos, A Nova Ratoeira, com a Editora Pimenta Malagueta. Como foi o processo de publicação com eles?

Sou autor independente. Se meus leitores não forem capazes de aceitar isso, sugiro que nem leiam o livro. Mas se desejam conhecer o novo, o que está surgindo não só meu, como o de outras pessoas extremamente competentes com quem tenho trabalhado, é uma proposta que pode soar como ousada.

Demorei mais de seis anos escrevendo os três livros. Comecei em 2005 e terminei em 2011. Terminar chamo fechar o ciclo da estória. Mas não acabei. Até hoje ainda dou polimento e busco melhorar ela antes publicar os próximos volumes. Faço o máximo para agradar os meus leitores. Busco fazer o meu melhor quando se trata de escrever.

A obra passou por uma leitura crítica (os três volumes) antes de eu me decidir a publicá-la. A pessoa tem nome conhecido nacionalmente, mas não vou citá-la aqui, pois pretendo fazer nova leitura crítica, se for possível financeiramente. Hoje estou em busca de fazer uma nova leitura, pois o texto mudou muito depois da primeira: ele amadureceu e foi muito polido. Quero uma outra opinião profissional.

Depois disso começou a peleja em conseguir uma editora que o publicasse. Quando comecei a entender a nossa realidade editorial, fiquei muito desanimado. Na época, por volta de 2011, algumas editoras diziam demorar até um ano para dar uma resposta. “Entendo a dificuldade delas. Mas amanhã posso estar morto. Desejo ver meu livro recusado ou publicado o mais rápido possível. Vou buscar outras alternativas.” , assim eu pensava.

Procurei uma editora que prometia horrores. Investiguei  e percebi que só desejava meu dinheiro. Pulei essa fogueira. Depois conheci uma outra que me fez criar um blog: Editoras perigosas. Apesar de haver investigado a procedência, de haver visto livros dela nas livrarias, e confirmar o CNPJ dela etc... aceitei a proposta de publicar compartilhado o valor de uma edição de 500 exemplares meio a meio. Assinei contrato e tudo. Preparei o livro com essa mulher por alguns meses. Até boneca do livro recebi. Mas um determinado dia descobri que havia tomado um golpe. Não só eu, mas outros autores também. Fiz o que podia para conseguir parar essa pessoa desonesta, mas nossa justiça é cega. Houve autores que chegaram a perder mais de R$ 20.000, além de assessoria de imprensa, vinda do exterior para cá, para uma bienal, e os exemplares não foram enviados e ele não obteve resposta.

Essa experiência terrível foi uma escola para mim. Pensei em desistir. Mas continuei. Sou obsessivo, sabe?

Conheci a Pimenta Malagueta, nova na época. Míriam de Sales, conhecida editora e autora baiana é a dona. É pessoa sensacional, com um excelente conteúdo e uma conversa sedutora. Não seria baiana se não tivesse uma conversa muito boa.

Bem, decidi prosseguir. Publiquei o livro. Mas ocorreu um erro e perdi 500 cópias. Cheguei a vender algumas cópias, mas busquei recolhê-las. Enviei um novo exemplar aos meus leitores e pedi que destruíssem os anteriores. Eu mesmo tive que destruir o que ficou em minha mão. Foi muito doloroso e pensei em desistir. Mas sou obsessivo, sabe? Pelo sucesso ou pelo fracasso, vou até o fim. Pode parecer burrice, mas há algo que me empurra nessa direção, pelo sim ou pelo não. É mais forte do que eu, ou do que meus medos. Não gosto de largar nada pela metade, a menos que tenha certeza de que ela não vale.

Fiz uma nova edição, quase vendendo minhas tripas, se é que elas valem alguma coisa. Aprendi muito sobre edição de capas, diagramação, revisão e, acima de tudo, jamais acreditar que está bom. Não sou nada dessas coisas, mas isso me ajudou a ter uma visão mais madura e sólida do processo. Ainda hoje aprendo sobre isso. Jamais vou parar de prender.

Hoje estou na batalha para me tornar mais conhecido, divulgar a obra e ver se consigo publicar o volume 2. Espero que o processo seja menos sangrento e menos doloroso. Mas não estou muito certo disso.


"A Nova Ratoeira, é o  primeiro volume da série que conta a história de um grupo de aventureiros, os Lâminas   flamejantes, que vão ao mundo de Fyskar para buscar esclarecimentos sobre alterações cósmicas detectadas pelos grandes magos de Kronir, seu mundo de origem. Lá eles   descobrem que um problema do passado havia retornado e dizimava o continente de   Driguard: Darmognatus, uma maquinaria maligna criada por antigos feiticeiros para   provocar medo e destruição. Mas quem seria poderoso o suficiente para reinvocar   aquele mal banido anos antes por eles mesmos?  Acompanhados por alguns novos amigos, os cinco aventureiros são guiados pelo   continente em busca de respostas para o que está acontecendo em Fyskar. Através dos   reinos encontram muitos aliados e terminam por descobrir que aquele que estava por   trás da reinvocação de Darmognatus era mais poderoso do que os deuses; a Auriflama do caos."


A Auriflama é uma trilogia. Você tem alguma previsão de quando saem as continuações?

Estou em busca de publicar uma tiragem do volume dois em 2016. A arte da capa já está em construção com o profissional que construiu a primeira. O livro passará por uma segunda revisão e irá para a diagramação. Enquanto isso busco captar recursos para a impressão. Se tudo der certo, pretendo ter o volume dois até maio de 2016.


Por falar em capa, eu amei essa de A Nova Ratoeira! Quais foram suas inspirações para a criação dos personagens, desde os nomes até a personalidade, e da trama como um todo?

Gosto dessa pergunta. Sou franco com relação à origem de minha obra. Ela se paroxima da origem das Crônicas de Dragonlance, que teve a estória jogada e depois foi transformada em romance.

Meu processo criativo é confuso, longo e lento. Sou jogador de RPG há mais de vinte anos. Alguns personagens foram criados por amigos meus, a exemplo de Zarlack Dreyfus, Petras Markvell (que originalmente era Peterson Maquiavel), Dan Forgen (que o jogador pegou de uma artista de Magic: The gathering, Dan Frazier), Cronyver Mesh (do mesmo jogo, tirado do nome Cristopher Rush), além de alguns outros, como Lythand, Tyrus, Draco Dameron e Storm Mounters (que vem do artista Stive Winter), que foram personagens de um outro amigo. Se eu pudesse manteria os nomes, mas por respeito aos donos dos verdadeiros nomes, decidi trocá-los.

Como pode perceber não éramos bons criadores de nomes fantásticos. Éramos adolescentes, poxa! Queríamos apenas jogar e nos divertir. O que valia eram as histórias pessoais de cada personagem, não tanto seus nomes. O próprio Elnhon Modoks (que foi personagem meu) veio de Anson Madocks, desenhista do Magic: The gathering.

Barack foi personagem do mestre com que joguei. Ele se inspirou na figura já conhecida. Mas este não me atrevi a mexer.

Outros personagens que criei, eu tive de inventar nomes. Sou péssimo nisso. Até hoje, quando surge um nome estranho na cabeça, anoto em um caderno de anotações de ideias. Guardo para quando for criar um personagem.

Com relação a criar personagens, como eu disse, alguns me foram cedidos. Sinto-me honrado por haverem-me cedido eles para construir o romance. Fiz isso com a maior paixão que um autor pode ter por um personagem criado por si mesmo. Peguei as histórias jogadas em mesa de cada um deles e tornei-as o background para o romance. Na época era como uma homenagem ao que essas pessoas (esses amigos) significavam para mim.

Bem, os que criei, por minha conta, não há um motivo que os gere. Quando quero criar um personagem, começo com um impasse. Algo que incomoda, que seja um problema ou uma questão importante. Isso se torna o motivo do personagem. É o que o alimenta, o que distingue, o que o decalca para que seja colorido. Quando eu fazia teatro amador, um dia, o diretor nos passou um exercício para casa. Simples, mas muito interessante. Hoje o aplico quase sempre. Ele recomendou que quando estivéssemos num ônibus, ou fila, ou qualquer outro lugar, que escolhêssemos uma pessoa e a olhasse discretamente. Que imaginássemos o porquê de carregarem aquelas expressões em seus rostos, que história de vida deviam ter, como deviam pensar e o que as motivava.  Ora, isso é criar um personagem. A pessoa provavelmente não é aquilo, mas você inventou algo novo com o material que há no mundo. Nesse caso, o corpo dela.

Criar para mim é isso. Pensar nessas variáveis, nos horrores de cada um, no que os movimenta e os condiciona. Há personagens meus inspirados em pessoas próximas que têm seus demônios pessoais e que nem se apercebem que eles me inspiram e me servem como ponto inicial de um personagem. Um pequeno trejeito, uma mania, um cacoete. Às vezes uma fala indevida, uma expressão filosófica. Ser escritor é falar do mundo além de você, a partir de você. Seria injusto eu omitir que o próprio mundo para quem escrevo é o meu maior inspirador.

No caso da trama, foi algo mais difícil e árduo. Eu tinha partes dela na cabeça. Sabia como terminar um volume, mas não como começar. As coisas eram desorganizadas, mas foi isso que me ajudou a escrever. Não consigo trabalhar de forma linear. Sou holístico, não cartesiano.

E seus autores favoritos, quais são? Eles serviram de base para seu estilo de escrita ou você formou um estilo próprio baseado em outros autores – não necessariamente os que te inspiraram no quesito criatividade?

Tenho o que chamo de três grandes musos inspiradores.: Terry Pratchett, Bernard Cornwell e Stephen King. Eles são em grande parte a base do que sou como escritor. Quando os leio, eu me sinto uma barata, pois eles me denunciam o que ainda preciso ter e que talvez jamais tenha. Sinto-me tão pequeno, tão derrotado, que me esmero em aprender com suas obras. Leio e releio.

Não os imito. Sou contra isso. Mas acho que eles me marcaram tanto que me tornei poroso à sua forma de escrever.

Ainda há outros autores por quem nutro admiração no mesmo patamar que eles. Machado de Assis me influenciou muito. Fernando Pessoa, Robert Louis Stevenson, Jack London, Neil Gaiman, Clive Barker, J.R.R. Tolkien, Eiji Yoshikawa, Poe, Rubem Fonseca e, é claro, Kafka. Na filosofia tem Musashi, Maquiavel; atualmente Emil Cioran, Edgar Morin e Zigmunt Bauman. Na Psicologia há Jung e Freud.

Quando lemos e admiramos um autor, somos influenciados por eles. Acho uma grande mentira e uma terrível pretensão algum autor falar que não sofre influências daqueles quem leu. Precisamos admitir que a literatura, a partir de um autor que inspira, pode evoluir ou degenerar. Mas a base será sempre esses que foram os pioneiros. Eles são os nossos mestres


Imagem retirada daqui.


Além da trilogia A Auriflama, você tem algum outro projeto engatilhado ou está focado nela até terminar?

Estou escrevendo uma heptalogia que é a continuação de um dos personagens de A Auriflama do Caos. Tem um tom diferenciado da trilogia. É mais cômico, mas não menos adulto e dotado de horrores pessoais.

Tenho uma antologia de contos também em construção. Alguns deles estão prontos. Publiquei um deles no Clube de Autores de Fantasia após publicá-lo na seleta Panorama da literatura Brasileira, lançada pela Pimenta Malagueta esse ano. O nome é Cheiro de Capim cortado.

Além disso, estou participando da construção de um game para PC, nacional, junto com a Unique, aqui na Bahia. É um jogo que terá nosso folclore como tema. Fui chamado pela Unique para ser o romancista e, junto com eles, o roteirista. Estou estudando muito sobre folclore nacional e elementos da cultura indígena. O projeto está belo, e em breve algo do romance chegará ao público para que este continue a interagir com a construção do jogo. O nome do projeto é Guerreiros Folclóricos.
Nossa, deve ficar legal demais! Adoro nosso folclore!
Como você acha que está evoluindo a literatura nacional e a recepção dos livros aqui dentro, tanto por parte dos leitores, quanto por parte das editoras?

As coisas estão melhorando, se eu pegar como eram em 2011 para como são hoje. A literatura ainda é artigo de luxo, porque produzir livro também não é barato. Para mim, a maior dificuldade disso tudo é divulgar a obra e distribuí-la. Pelo menos aqui na Bahia.

As livrarias cobram um valor absurdo pela venda de um exemplar. 40 ou 50% do valor de capa é desanimador, principalmente para o autor independente. Quando se pensa nos custos de produção de capa, diagramação, revisão, leitura crítica, impressão, e se compara com esse percentual, fico apavorado.  Como o livro pode chegar ao leitor assim? Por isso desisti de distribuir meus livros às grandes livrarias, que na maioria das vezes nem respondem ao autor, a menos que ele vá pessoalmente.

Já com o público sou mais otimista. Acho que o mercado nacional está em expansão. Temos pessoas vorazes por coisas produzidas aqui. Inclusive na literatura fantástica. Falta o autor iniciante encontrar apoiadores. O Clube de Autores de Fantasia, cujo criador é L. A. Nunes, um dos meus primeiros leitores (e que recebeu um exemplar problemático), e toda a sua equipe busca divulgar e incentivar a literatura e suas novas promessas. Precisamos de mais iniciativas e parceiros desses para que os leitores possam conhecer o que há por ai e pouco ou nada se fala ainda.

Por último, quer deixar um recado para os leitores?

Escrever é uma atividade solitária e doída. Quando Hemingway falou sobre sangrar no papel, restringiu outros tipos de explicação sobre isso. Não esperem que seus amigos valorizem sua obra. Nem seus pais, namorados, professores, irmãos, colegas... Ela é sua, escolhe você para ser o seu receptáculo, para germiná-la e lançá-la ao mundo como uma semente, ou um produto. Ame-a. E odeie também. Acaricie ela e depois mutile. Enxerte. Tire. Mastigue. Pise. Reescreva. Chore. Reescreva. Apague. Termine.

Quando alguém mostra se interessar pelo que você produz, pelo menos em minha experiência, é por pragmatismo, educação. Poucos de fato vão se interessar por ela genuinamente até que esteja pronta. E mesmo que pronta, muitos nem sequer falarão dela ou a lerão. Podem até elogiar, mas insisto, será por educação.

Você saberá que alguém o considera quando lhe disser a verdade, por mais dura que seja. Sua obra pode estar ruim. Incoerente, errada, mal revisada, mal escrita. Pode ser chata ou desinteressante. Ou pode ser o oposto disso. A indiferença sempre vai existir.

Cabe a você fazer com que ela ganhe algum valor para os outros. Mas jamais se esqueça que ela o escolheu e do valor que tem para VOCÊ.

Mogg, adorei suas respostas! Muito obrigada pela disponibilidade em conversar conosco e contar um pouco mais sobre a sua obra! Te desejamos todo o sucesso! ;)

Samy =)

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