sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Por trás do lápis: Jana P. Bianchi


Hoje é dia de entrevistaaaa! Estou com várias engatilhadas aqui para trazer para vocês! Adoro conhecer mais (e apresentar para vocês) esses autores tão queridos. Hoje o dia é da Jana. Que escreve fantasia urbana contemporânea. Ela é uma querida e respondeu as nossas perguntas com a maior boa vontade. Aliás, segundo ela, é só dar trela que ela não para de falar! Mas eu prometo que vale a pena ler tudo!
 
"Jana P. Bianchi é desenhista, viajante, escritora e coordenadora de projetos do Clube de Autores de Fantasia. Nas horas (não) vagas, atua como engenheira de projetos e processos industriais. Dos quatorze países que já conheceu, trouxe inúmeras histórias como souveniers."
 
Oi Jana! Primeiro eu gostaria de te dar as boas vindas aqui no Infinitos Livros! É um enorme prazer ter você aqui conosco!

Sammy, eu que fiquei toda feliz e animada com o seu convite! Obrigada! :)
  

Quando surgiu em você essa necessidade de escrever? A vontade de se tornar uma escritora?

Eu escrevo desde que me conheço por gente – felizmente, meus pais acharam bonitinho essa mania e guardaram muita coisa que produzi quando era pequena. O arquivo mais antigo é o conto O Bolinho, que escrevi em 96, quando eu tinha sete anos! Mas digamos que dos sete aos 22, 23 anos, escrever era só um hobby. Foi só no fim da faculdade que comecei a levar a sério a história de fazer disso uma carreira. Ainda não vivo só de escrever, mas hoje posso dizer que considero a escrita uma segunda profissão, uma profissão paralela, que encaro com muita seriedade.


Hahahahaha! Quero ler O Bolinho!  
Você começou a ler desde nova, ou foi um hábito que surgiu depois de mais velha?

Bom, meus pais me ensinaram a ler em casa quando eu tinha três anos e meio, e dizem eles que foi porque eu não dava paz pros dois, porque queria que ficassem lendo livros e gibizinhos da Turma da Mônica pra mim o dia inteiro! Hehehe... Minha mãe conta que o primeiro livro que eu li sozinha, nessa época, foi o Fogo no Céu. A paixão começou aí e nunca acabou. Ajuda o fato de a minha família toda ler muito: a família da minha mãe sempre adorou e passou pra mim o gosto pelo realismo fantástico; e meu pai sempre leu sci-fi, terror, fantasia... A dedicatória no meu O Hobbit (presente de Natal de um tio) data de quando eu tinha 10 anos. Logo depois veio Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Fronteiras do Universo... Daí eu descobri os livros do meu pai e, antes de entrar no colegial, já tinha lido Isaac Asimov, Stephen King, alguns livros de terror...


Leio gibis da Turma da Mônica até hoje! Amo!!
Você tem um gênero favorito, ou lê tudo que para na sua mão? 

Olha, leio de tudo! Mas a vida é muito curta e tem muito livro por aí pra ler, né? Haha... Então, foco
nos gêneros que eu mais gosto: a fantasia, o terror, a ficção científica e o realismo fantástico. Também gosto muito de ler biografias e livros de ciência e tecnologia (porque, por incrível que pareça, eu sou engenheira e até que gosto disso! Hehe...).


Nos conte sobre seus autores favoritos – incluindo aqui os nacionais!

Não necessariamente me ordem alguma, amo Stephen King, Neil Gaiman, Patrick Rothfuss, Terry Pratchett, J. K. Rowling, Haruki Murakami, Gabriel García Márquez... Ultimamente ando conhecendo muitos autores nacionais que em nada devem aos gringos, mas pra citar alguns: curto o Vianco e o Spohr (especialmente seus livros mais recentes), mas meu autor nacional preferido é o Eric Novello. O Eneias Tavares tem só um livro até agora, mas também adorei! E, sem dúvida nenhuma, tem o Maurício de Sousa. Já falei outras vezes e repito: ele é e sempre será meu ídolo-mor de todo o cenário cultural do Brasil.


Concordo com você sobre o Maurício de Sousa e estou lendo meu primeiro do Novello. Veremos! Hehehehe
Você acha que eles são sua maior influência na hora de escrever ou apesar de esses serem seus favoritos, você buscou influências em outro lugar?

Ah, sem dúvida eles são minha influência. Quando comecei a escrever coisas um pouco mais estruturadas – isso lá pelos dezesseis anos, mais ou menos – era super nítido qual autor eu estava lendo naquela época, porque tudo o que eu escrevia saía com o tom daquele autor. Mas com o tempo aprendi a escrever do meu jeito, misturando as referências e as coisas que eu gosto pra gerar algo meu. Mas sem dúvida tem muito desses autores no que escrevo. :)


Você acabou de lançar Lobo de Rua, uma novela introdutória para a sua saga A Galeria Creta. Não é muito comum vermos um lançamento curtinho introdutório de uma saga. O que te levou a querer fazer dessa forma? A facilidade de publicação? Ver a reação e aceitação do público?

Olha, eu gostaria de dizer que foi esperteza voluntária minha, mas, na verdade, as coisas foram acontecendo sozinhas e, no fim, parece que deu certo o caminho... Haha... Bom, no começo desse ano (2015) eu estava super mergulhada no romance A Galeria Creta. Daí surgiu uma antologia aberta do CAF e eu queria muito participar, mas não queria abandonar o universo do A Galeria, porque estava super empolgada. Aí decidi que ia escrever algo menor e fechado, mas passado nesse universo mesmo. Como amo lobisomens, resolvi contar a minha versão dessa criatura mitológica tão célebre e nasceu o Lobo de Rua (que era pra ser um conto, mas eu meio que me empolguei... Hehe...). E hoje vejo que foi uma ótima estratégia, porque: 1. A novela acaba chamando a atenção pro romance, que eu ainda estou escrevendo e 2. Por ser curtinha, as pessoas acabam lendo rápido – algumas vezes, passam a leitura na frente de um romance maior porque, em algumas horas, conseguem acabar a novela. E isso, naturalmente, contribuiu pra que bastante gente lesse a novela em pouquinho tempo de lançada. Ah, e por último, por ser curta, a tiragem da versão impressa ficou relativamente barata, então consegui bancar sozinha. No caso de um romance, já não teria dado conta.


"Raul é um​ morador de rua​, um menino invisível ​como tantos outros. ​C​omo se sua desgraça​ não fosse suficiente, ​o garoto​​​ descobre-se portador da licantropia, maldição que o transforma em fera sempre que a lua cheia ocupa o céu. Tito Agnelli​ é um velho imigrante italiano.​ ​Ele ​não compartilha do abandono de Raul, mas conhece muito bem a sensação de ser rasgado por dentr​o ​pela coisa vil​ e selvagem​ que se abriga nele.​ ​
C​ompadecido com o sofrimento do recém-transformado, Tito ​​acolhe Raul ​e reabre a Alcateia de São Paulo, extinta até então por falta de ​lupinos residentes na Pauliceia. Depois de décadas de contaminação, ​Tito conhece cada detalhe da maldição​ com que precisam lidar​.​ ​E conhece também a Galeria Creta, um lugar​ em São Paulo onde​, na lua cheia,​​ há sempre um abrigo seguro​ para ele e para outros dos seus.
Basta pagar o preço.
"

 
A Galeria Creta é uma saga focada no Minotauro, certo? Quantos livros podemos esperar, ambientados nesse mundo? Você pensa em fazer livros independentes ou serão uma sequência?

Na verdade o A Galeria Creta nasceu pra ser um livro único – tanto que não tem subtítulo pra esse primeiro romance, vai chamar só A Galeria Creta mesmo. Desde o começo, queria que o A Galeria fosse focado em uma história “menor” que servisse de fio condutos para apresentar o estabelecimento e o Minotauro, um demoniozão maluco que gerencia um antro de escambos de desejos – no caso, o livro conta a história do Téo, que aparece ao fim do Lobo de Rua. Mas fica bem claro que a Galeria é um estabelecimento enorme e cheio de possibilidades, e que milhares de pessoas transitam por lá todos os dias, fechando ou não seus negócios com Minotauro. Na realidade, no livro eu explico que existem milhares de Galerias similares pelo mundo – ou seja, o livro é quase uma micro história, já que eu falo só de uma dessas milhares, que por acaso fica em São Paulo. Então, se um dia eu resolver, vou sim contar outras histórias de outras pessoas que já visitaram os domínios do Minotauro ou outras Galerias – mas não é o plano inicial. (Claro que na prática a gente não tem muito controle dos nossos universos, então já tenho um primeiro outline de um novo livro sobre o Tito, que simplesmente surgiu. A Galeria vai aparecer só de relance, mas não deixa de ser uma obra no mesmo universo).


Eu já curti o Tito na novela, então estou doida pelo livro dele! E curiosíssima para conhecer direito o Minotauro!
Para quem ainda não conhece seu trabalho, fale um pouco do que podemos esperar das suas obras!

Nossa, acho que nunca precisei falar assim diretamente do que eu escrevo! Haha... Mas vamos lá: eu tentei fazer do Galeria – e, consequentemente, do Lobo de Rua – uma obra adulta de fantasia urbana. ADORO infanto-juvenil, mas pra essas obras quis trazer um toque mais sombrio e mais cru pro que eu escrevo, porque é um tom que eu aprecio muito em autores como Neil Gaiman e Stephen King. Até por isso, como você citou bem na sua resenha, não fiz muito esforço pra censurar os palavrões e alguma coisa de teor sexual. Tentei também inserir muitas referências da nossa própria cultura – não necessariamente da cultura tradicional brasileira, mas sim da cultura contemporânea: como falamos, o que comemos, onde vamos e tal. Terminando o Galeria Creta, tenho a intenção de escrever mais uma fantasia urbana (o tal livro focado no Tito) e, depois, tenho uma ideia bem embrionária de alta fantasia. Estou super empolgada, acho que tenho material para trabalhar pelos dois próximos anos com tranquilidade!


Uma perguntinha cretina, mas qual seu personagem favorito até agora, dentre os que você já escreveu?

Hahaha “cretina” é ótima... Espero que os personagens preteridos não me ataquem depois enquanto eu durmo, mas eu tenho, sim, meus queridinhos. O Tito é um personagem que eu amo: na primeira ideia que eu tinha do Lobo de Rua, ele ia ser um cara meio filho da puta, meio egoísta e interesseiro. Mas do nada ele ficou um velhinho imigrante simpático, carinhoso e melancólico, e eu amei como ele cuidou do Raul. Ele é um lobisomem mas também é um homem muito... humano. Rsrs... E, empatado em primeiro lugar com o Tito, tem o Charlie. O Charlie é um tiozão nerd que tem uma loja de discos antigos em São Paulo. Ele nem existia no primeiro outline do A Galeria, mas apareceu em uma cena, fumando um cigarro apagado, e do nada ele virou personagem chave da história. Tanto que escrevi um conto sobre a origem do vício do Charlie e ele passou na seleção para a Contracapa. Ano que vem, deve ser publicado. :)


Estou curiosíssima!!
Você chegou a fazer alguma pesquisa antes de escrever seu livro?

Sim, fiz sim! Mas não foi nada tão extensivo quanto o trabalho de alguém que escreve um romance de época, ou então de alguém que cria uma alta fantasia cheia de novos povos e idiomas. Mas pesquisei um pouco sobre alguns pontos de São Paulo, um pouco sobre algumas doenças contagiosas e, naturalmente, sobre o mito do lobisomem. Aliás, antes do Lobo de Rua (mas não com essa intenção), li um livro que chama O Livro dos Lobisomens. Ele foi escrito em 1865 (sim, no século passado!) e é um compilado – supostamente, não-ficção – sobre relatos de licantropia e lobisomens pelo mundo. É bem maluco.


Como você acha que está caminhando o espaço para escritores nacionais, principalmente estreantes? Estando de fora, eu percebo um maior número de publicações nacionais, seja em ebook, seja com livros físicos, seja por editoras, sejam publicações independentes. O que você acha que levou a esse crescimento?

Bom, eu ainda sou bem iniciante nessa carreira e ainda não conheço a fundo o mercado, mas ando conversando com muita gente e lendo sobre isso por aí. E o que eu vejo é que, por conta da melhora da situação socioeconômica média da população, cada vez mais aumenta o número de leitores no país. Assim, naturalmente, cresce também o número de gente interessada em escrever. Tipo, em alguns países da Escandinávia, escrever é um hábito tão comum quanto ir ao cinema, quase todo mundo faz – porque, se você for ver bem, escrever é uma continuidade do hábito de ler, e lá eles leem muito, todo mundo. Pela mesma razão, a escrita gringa É mais madura e consistente que a nossa. Esse é um fato, não é uma questão de talento ou de capacidade da nossa parte, mas uma questão de maturidade do mercado mesmo: quanto mais gente produz, mais coisa boa aparece e ganha destaque, e quem “fica pra trás” precisa se aperfeiçoar e correr atrás do prejuízo pra se equiparar a quem vem ganhando espaço. Não à toa, lá fora a escrita é encarada como um ato que precisa ser estudado, entendido, moldado com ferramentas e técnicas. Por isso que ainda estamos numa fase em que surgem grandes talentos pontuais na literatura (não só da fantasia), e não um grupo consistente de gente escrevendo com qualidade excepcional, entende? A boa notícia é que esse boom de leitores (especialmente de fantasia) acabou gerando um espaço grande e uma força motriz positiva para melhorarmos – não duvido que, em alguns anos, teremos ótimos autores nacionais publicados em maior número e com maior destaque, de maneira consistente e contínua. Agora, falando dos autores iniciantes como eu. Nós, em especial, temos que dar nosso melhor porque, aqui no Brasil, ainda existe um paradoxo: é difícil para os autores iniciantes publicarem por editoras convencionais (ou seja, não por demanda). Assim, esses autores buscam a carreira independente e, algumas vezes, acabam publicando algo não totalmente maduro. Isso reforça o estereótipo de que autor iniciante não consegue produzir algo de qualidade superior e, por conseguinte, editoras convencionais fogem dos iniciantes. Um ciclo, vê? Não tem jeito, esse é um paradoxo que só tem um jeito de quebrar: PROVANDO que jovens autores independentes têm qualidade através de obras – e-books, independentes, como a gente conseguir – com alto padrão de qualidade e maturidade.


Você percebeu algum tipo de preconceito por ser uma autora estreante, ainda mais de fantasia – que tem essa fama ridícula de ser um gênero mais “masculino”?

Preconceito por ser estreante eu (acho) que não sofri – não do tipo “Eca, não vou ler porque ela é iniciante, credo”. Hahaha... Mas sim: eu tenho que que brigar com mais afinco por cada leitor meu, não é só publicar algum texto e aparece gente aos montes querendo ler, como acontece com quem já tem uma base sólida de leitores. É um trabalho cansativo, lento, mas aos poucos estou chamando a atenção de mais gente e, naturalmente, a tendência é que isso se torne algo autossuficiente. Em geral, costumo ouvir que a pessoa não dava muito para o meu livro mas, mesmo assim, foi lá, leu e curtiu. Isso acho que não deixa de ser um sinal da quebra do preconceito, né.. E não tive nenhum caso escancarado de preconceito por ser mulher, mas aconteceu sim de ouvir algo como “não parece que seu livro foi escrito por mulher” – a pessoa falou com boa intenção, como um elogio (sem sentido), mas o que fica é o gostinho amargo de saber que ainda existe esse tipo de “impressão” quando temos por aí Rowling, Anne Rice, Ursula Le Guin e etc. Afinal, Mary Shelley escreveu Frankenstein em 1818, minha gente, acorda! Hahaha...

 
Por último, quer deixar algum recado para o pessoal aqui?

Bom, eu falei tanto já que não vou me estender muito não... Haha... Mas quero deixar dois recadinhos sim:
  1. Se você é leitor, curte e torce pela literatura nacional, ajude a gente a ganhar espaço. Não precisa (só, nem necessariamente) comprar nossas obras, mas leia e dê feedback sincero sobre o que leu. Uma resenha na Amazon, Skoob ou Goodreads faz toda a diferença na hora de promover um autor pouco conhecido. Mas também não adianta avaliar maravilhosamente tudo o que lê só porque você conhece o autor ou quer ajudar – avaliações exageradas podem causar o efeito inverso, deixar o leitor desconfiado da veracidade daquelas avaliações.
  2. Se você é escritor, se mostre! Não no sentido de se publicar, mas no sentido de dividir o que escreve com outras pessoas como você – outros escritores, pessoas confiáveis e que estão na mesma vibe que você que podem dar dicas preciosas sobre o que escreve. Coisas que você não vê mais por estar viciado, sabe? Essa dica ajuda tanto os escritores tímidos – que podem descobrir que tem coisas ótimas em mãos – e os megalomaníacos – que de repente podem ver que ainda há o que melhorar.

É isso aí. Obrigada mais uma vez pelo espaço, Sammy! Minotauro manda um beijo e diz que pode ser procurado no galeriacreta@gmail.com a qualquer momento!


Jana, foi um prazer enorme receber você aqui com a gente! Te desejamos o maior sucesso na carreira que já começou com o pé direito!


E pessoas, o que acharam da Jana? Eu sei que ela fala demais, mas é gente boa né? :P
Hehehehe

Até a próxima entrevista!

Samy =)

4 comentários:

  1. Adorei a entrevista! Agora fiquei mais curiosa para ler Lobo de rua. :)

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    1. Leia sim Lígia! É curtinho e sempre tá com preço bom na Amazon!

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  2. Ansiosa para ler! Adorei a entrevista! :)

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